terça-feira, 16 de julho de 2013

Matrix é só loucura


Hoje, por algum motivo, é dia de texto. Mesmo com minha dor de cabeça multidimensional, sinto que meu dia não valeria a pena se não escrevesse ao menos um texto. Já estava pensando há dias em fazer a análise de um filme e creio que não poderia ter tido melhor escolha. O filme da vez é Matrix (apesar da pronúncia certa ser mêitrics, sempre falarei o bom e velho português dos meus pais, intitulado “A Boca É Minha E Eu Falo Do Jeito Que Eu Quiser”, MATRICS ).


No livro “O Mundo de Sofia”, há uma citação da peça “Jeppe de Bjerget", do escritor “Ludvig Holberg”. Procurei a obra em todos os cantos da deep web, mas tudo que encontrei foram textos em holandês ou algo do tipo. Para não estragar meus planos, vou tentar resumir a história: Jeppe acaba dormindo numa estrada e acorda na cama de um homem muito rico. Quando acorda, acha que sonhou que era um pobre camponês mendigão que passava fome e volta a dormir. Enquanto dorme, é levado de volta ao lugar onde havia adormecido primeiro. Quando acorda, pensa ter sonhado que deitou na cama de um homem muito rico, misturando toda a realidade. Quem assistiu ao filme e é manjador já deve ter entendido a minha analogia. O filme Matrix, além de uma série de outros questionamentos, questiona o que é a verdade; o que é a realidade.
Primeiramente, vamos ao que vem primeiro. Matrix é um filme de ficção científica e ação lançado no ano de 1999 (apesar de ser uma trilogia, analisarei apenas o primeiro, por ter sido o único que consegui assistir recentemente). O filme conta com a participação de três personagens principais: Morpheus, Trinity e Neo. Ao analisar a obra, pude retirar as seguintes interpretações para os nomes:
·       Morpheus é um deus grego, o moldador de sonhos. Tem a capacidade de assumir qualquer forma no sonho de um humano. Por que o Deus dos Sonhos? O personagem faz a intermediação entre o mundo real e a Matrix (breve virá sua explicação) e é o chuta bundas dessa relação.
·      Trinity (do inglês, trindade), traz uma referência à Santíssima Trintade do cristianismo, na qual Trinity, Morpheus e Neo representam aqueles três que trarão a paz.
·   Neo. O prefixo neo, de etimologia grega, significa novo, o que remete à mudança, à revolução que todos aqueles que sabem da Matrix esperavam. O termo Neo também é uma variação de One, fazendo alusão ao único, a ao escolhido. Muitos também dizem que o personagem representa Jesus Cristo, pelo fato de trazer essa “nova aliança” com o mundo perdido. Não vou me aprofundar nessa parte, pois meu foco neste texto não é debater religião (isso fica para outro rs).
Mas e essa tão falada Matrix, o que significa? Após viver tanto em função da tecnologia, a humanização da máquina torna-se realidade no universo do filme. A máquina passa a desenvolver uma inteligência artificial e descobre que, para manter-se viva, é necessário se alimentar do corpo humano (algo relacionado à energia que nossos corpos lhes fornecem). Para manter os humanos sob seu domínio, essa nova inteligência artificial cria um mundo virtual onde os humanos vivem tal qual vivemos nos dias atuais: envenenados pela ideologia do sistema que nos configura. Por estarmos tão acoplados e alienados a esse sistema, passamos a fazer parte dele e a defendê-lo, mesmo que inconscientemente (um dos ensinamentos mais fortes do filme). Esse mundo virtual é a tão mencionada Matrix. A nós é apresentada somente essa realidade, por isso, mesmo que ilusória, torna-se, em nossa mente, a real (por ser a única a nós apresentada). Isso remete ao questionamento feito no início do texto: o que são a verdade e a realidade? Como podemos diferenciá-las do surreal? Como dito por Morpheus durante o filme, se for tudo aquilo que podemos sentir, tocar, cheirar, ver, então a Matrix é a realidade.

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Finalizada essa primeira parte de introdução, vamos à análise do enredo do filme. Thomas Anderson trabalha para uma empresa de software durante o dia e como hacker durante à noite, atendendo pelo pseudônimo Neo. Thomas Anderson ou Neo, como você preferir (real versus surreal hehe), na sua primeira cena, está debruçado sobre sua mesa, quando recebe o primeiro contato do mundo real. Na tela do seu computador, aparecem mensagens dizendo que a Matrix o encontrou e etc, dizendo-lhe para seguir o coelho branco. No mesmo momento, alguns dos seus clientes batem à sua porta e uma das mulheres convida-o para uma festa. Esta mesma mulher tem um coelho branco tatuado nas costas. Esse coelho branco faz uma alusão ao filme Alice no País das Maravilhas, no qual um coelho branco convida Alice para viver uma aventura. A partir desse momento, Neo encontra Trinity  e começa a viver a tal aventura. Nesse começo de filme, Neo representa o trabalhador, a massa de manobra. Sempre cansado, preocupado com o trabalho e sem gozar dos prazeres da vida, é o tipo mais comum de cidadão.
Pelo fato de existirem pessoas que vivem a real realidade se conectando à Matrix, existem os agentes, aqueles responsáveis por exterminar essas pessoas. Esses agentes, ao saberem que Neo está sendo contatado por Morpheus, capturam-no a fim de que ele entregue os parâmetros do Negrão dos Sonhos. Neo toca o foda-se para os agentes, mesmo pensando que são uma espécie de Gestapo, e, subitamente, acorda. Quando acorda, recebe uma ligação de Morpheus e vai ao seu encontro. Lá, acontece a famosa cena da pílula e, tendo de optar entre descobrir a verdade e continuar vivendo sua vida mesquinha, crendo ser a verdade, escolhe rodar a baiana e descobrir tudo.
Num real renascimento, Neo é desconectado da espécie de casulo onde servia de alimento para as máquinas e é mandado para a nave de Morpheus e sua tripulação. Morpheus explica o que é a realidade Matrix e mostra como está o mundo realmente. O ano em que estão na verdade é pra lá do século XXII; não 1999, como achava. O mundo se encontra todo fodido. Depois disso, Neo é treinado e, durante seu treinamento, é educado sempre a livrar sua mente, numa tentativa de se desprender da alienação às leis sob as quais estava vivendo.
Numa das próximas cenas, um dos personagens, Cypher, aparece conversando com um dos agentes. Nessa conversa, Cypher, negocia com o agente a entrega de Morpheus em troca de uma vida de prazeres em Matrix. O personagem, mesmo sabendo que de uma forma ilusória, aceita se submeter à omissão da realidade, nua e crua, em busca de prazeres e tampões surreais que ofuscam a realidade (o que me lembra instituições religiosas, MASSS não é o caso) e lhe proporcionam a sensação de uma vida satisfatória.
A trama continua a se desenvolver de forma bastante interessante, com desfechos super legais. Diversos questionamentos ainda podem ser feitos, mas, a fim de os estimular em vocês mesmos, não tirar a graça do filme e de fazer com que vocês o assistam, não irei mais comentá-los. A obra reúne os pensamentos de diversos filósofos (não cheguei a citá-los por ter uma formação teórica palpérrima), formando uma crítica pesadíssima à nossa sociedade. Não sendo somente uma obra de grandioso valor intelectual, Matrix foi um marco para a história do cinema. Seus efeitos visuais, com imagens em Slow Motion, trocas de ângulo e novíssimas explorações técnicas e gráficas revolucionaram o que era considerado tangível ao cinema.

Por fim, não sei se ficou aparente, mas não respondi como caracteriza-se a realidade, ou a verdade. Não respondi pelo simples fato de não saber. Nunca encontrei nenhum conceito de verdade que me deixasse satisfeito, então talvez seja melhor assumir a posição de Nietzsche e assumir que não se pode encontrar uma certeza para a definição do oposto da mentira. Mas vou além dele e atrevo-me a perguntar: será que, pelo fato de não saber o que é, eu não esteja vivendo-a? Talvez a Matrix seja mais “real” do que pensamos...

3 comentários:

  1. Massa Joao, eu assisti os 3 e posso te dizer q o primeiro eh realmente tudo q vc falou...^^

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  2. AMIGO ESSE FILME É 1 PLÁGIO DE UMA HQ DO GRANT MORRISON CHAMADA OS INVISÍVEIS (THE INVISIBLES) HÁ BRAÇOS

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